Se no primeiro post antecipávamos
a importância das contas externas, como sinal de uma farra crescente, no
segundo post devemos olhar com atenção o potencial destrutivo do segundo grande
desequilíbrio ao qual a farra de liquidez, recursos externos e credito nos pode
levar.
O discurso oficial neste momento
é que a arrecadação recorde mês após mês é um sintoma do sucesso da economia
brasileira e da fortaleça do guarda chuvas que nos protege da crise mundial.
Este discurso, mais ou menos compreensível
olhando os relatórios das contas publicas, é muito parecido à soberbia atitude
de alguns países europeus, nomeadamente Espanha, na época da bolha. Os recursos
externos fluíam ao país em taxas expressivas, o povo, as empresas e o setor
financeiro detinham recursos ilimitados para financiar a farra, o consumo
desenfreado, o crescimento empresarial exorbitante, as fusões e aquisições para
a ascensão de Barões no listado mundial Forbes.... Que quer dizer tudo isto para
as contas publicas? INGRESSOS, RECORDES DE ARRECADAÇAO, FARRA!!! Com dinheiro
no bolso os políticos podem presumir ao mesmo tempo de ter contas equilibradas
e de ter recursos para gastar e mal gastar a sua plena vontade, no caso
brasileiro tal vez mais recursos para sobrefaturar e lucrar, no caso espanhol,
mais recursos para fazer trens de alta velocidade a lugar nenhum, fazer praças e
instalações desportivas de primeira ordem nas mais remotas aldeias, ou recapear,
alterar ou modificar portos, aeroportos ou estradas todos os anos em contratas multimilionárias
com empreiteiras.
Porem, isto é um castelo de naipes, se as farras proveem dos
recursos externos e o déficit nas contas externas aumenta. Lembremos-nos do 10% no caso espanhol, tapado pela pertencia à
zona Euro, ou do 2% já no Brasil no ultimo mês de janeiro. O cenário mudara radicalmente quando o fluxo
de recursos se pare, por uma crise de liquidez ao estilo Lehman Brothers, ou por
uma crise real como bem poderia ser uma freada da China e a subseguinte queda de
preços nas commodities vitais para o Brasil. Uma vez que a atividade se freie,
a arrecadação despenca, mais ainda no caso de Brasil, pois grande parte da arrecadação
e indireta e depende da atividade.
Qual é a proteção? Bem, muito fácil
para 99% dos economistas, porem muito difícil para o 99% dos políticos. Em
primeiro lugar, nas épocas de bonança os setores públicos tem que guardar, enquanto
que nas épocas de crise, investir e gastar. De fato Espanha até teve superávit fiscal
na época pré-crise, porem moderado (somente um 2%) porem o Brasil nem sequer consegue
neste momento de bonança equilibrar suas contas (estamos falando de déficit/superávit
real ou nominal, não na piada para inglês ver do superávit primário) Em segundo
lugar, na qualidade do dispêndio. Espanha, Portugal e Irlanda entre outros
gastaram muito, mas hoje se você viaja nas estradas portuguesas, frequenta os hospitais
espanhóis ou visita as cidades irlandesas você vê o dinheiro investido. Lamentavelmente
no Brasil, é difícil ver o dinheiro, pois grande parte fica consumida em salários
e gastos de custeio, enquanto que a parte investida fica sobrefaturada ou desviada. Cadê os hospitais, portos, aeroportos,
estradas ou universidades novas?
Conclusão? tem que ficar de olho não somente nas contas
externas, mas também nas contas publicas. E se alguém não viu clara a argumentação,
que compare os dados fiscais espanhóis em 2006-7 como os dados brasileiros atuais.
Atenção ao superávit até a crise, e o déficit posterior consequência da queda
na arrecadação. Simplesmente impressionante. Alguém acredita mais no papo de que a crise
europeia proveem de governos gastalhoes?Nao será que a causa é que se drenou a
torneira da liquidez externa a empresas, bancos e governo, e dai simplesmente sumiua
atividade econômica, levando como um tsunami o equilíbrio/ nas contas publicas.
ESPANHA
|
2006
|
2007
|
2008
|
2009
|
|
Despesa Publica
|
38,4
|
39,2
|
41,1
|
45,9
|
|
Ingressos Públicos
|
40,4
|
41,4
|
37
|
34,7
|
|
Déficit/Superávit
|
2
|
1,9
|
-4,1
|
-11,2
|
|
Divida do governo
|
39,6
|
36,2
|
39,7
|
53,2
|
BRASIL
|
2010
|
2011
|
|
Des. Primaria*
|
17,66
|
18,58
|
|
Rec. Primaria*
|
22,82
|
24,4
|
|
Deficit/Sup. Nominal
|
-2,48
|
-2,61
|
|
Divida do governo
|
39,1
|
36,5
|
|
*Somente governo central
|
Como vocês terão percebido, por
enquanto não temos identificado nem aprofundado na bolha imobiliária em particular,
mas sim na situação macro da economia brasileira neste momento, pois o um leva
a outro, os dois se retroalimentam e possivelmente os dois detonarao juntos,
por isso é fundamental ter o entendimento
de que acontece no macro para compreender que acontece e acontecerá no setor imobiliário
e financeiro em particular.
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